terça-feira, 4 de novembro de 2014

Postagem nº6: Mecanismos das drogas: Cocaína e Crack

A cocaína é uma droga obtida nas folhas de coca e consiste num composto alcalóide ( que contem nitrogênios básicos). A cocaína possui efeito estimulante e inibidor de apetite. A cocaína produz efeitos anestésicos a baixas concentrações e efeitos de inibição dos canais de sódio o que pode, em altas doses, ser extremamente nocivo e gerar efeitos como paradas cardíacas.
Kokain - Cocaine.svg
A molécula de cocaína possui partes tanto hidrofílicas quanto lipofílicas. Seu caráter lipofílico a permite atravessar a barreira hemoencefálica e , assim, exercer ação no sistema nervoso central. A cocaína induz a estresse oxidativo dos neurônios monoaminérgicos onde atua, fazendo, assim, com que haja a presença de espécies reativas de oxigênio que podem causar danos vasculares às áreas adjacentes, afetando a permeabilidade da barreira hemoencefálica. Além disso, essa substância afeta a expressão de proteínas que geram as zônulas de oclusão na barreira hemoencefálica afetando ainda mais a permeabilidade dessa barreira. Esses efeitos podem ter consequência na ação de outras drogas no sistema nervoso central devido ao aumento da permeabilidade da barreira.
A cocaína tem efeitos que duram de 15 minutos a 1h. Ao ser consumida, a droga causa entorpecimento. A cocaína  deixa o usuário mais alerta, com mais energia e  gera um sentimento de bem estar, euforia, auto-estima e aumenta a libido. Ao se descontinuar o uso da droga, sentimentos de ansiedade, paranoia e cansaço são observados. Podem haver convulsões e aumento da temperatura corporal.
A cocaína inibe a reabsorção de monoaminas como a serotonina e dopamina nas sinapses, permitindo que esse neurotransmissores passem algum tempo causando estimulação. Ao se ligar no complexo transportador desses neurotransmissores, a cocaína impede o transporte dessas moléculas.  Esse efeito age sobre o sistema mesolímbico (de recompensa) gerando efeitos de prazer . O efeito de estimulação de fibras dopaminérgicas também age sobre a substância negra, gerando efeitos de motores. Após o consumo da droga, no entanto, os níveis de serotonina e dopamina no SNC baixam muito, gerando efeitos de disforia e depressão. Os usuários crônicos de cocaína podem desenvolver problemas de psicose e esquizofrenia, com sintomas como paranoia, agressividade e alucinações táteis, comumente relatados como sentimento de insetos andando por baixo da pele.
A abstinência física de cocaína gera efeitos desagradáveis, mas não é perigosa. Entre esses efeitos estão insonia, hiperinsonia, sonhos desagradáveis, ansiedade, agitação, dor fraqueza física e uma grande compulsão pelo uso da droga.  Os efeitos de abstinência podem durar semanas e até meses. Mesmo após os efeitos de abstinência passarem, os usuários continuam sentindo necessidade de usar a droga anos depois de seu abandono.
O crack é uma forma diferente de cocaína que se apresenta em pedras, não em pó. O crack é produzido a partir da cocaína usando-se bicarbonato de sódio, A grande diferença entre o crack e a cocaína é que o ponto de fusão do crack é bem menor,  fazendo com que possa ser vaporizado e  facilmente absorvido no pulmão, onde penetra na corrente sanguínea de modo muito mais rápido, causando efeitos mais intensos e com potencial de causar toxicodependência muito mais elevado.




Cocaína, em forma de pó



Crack, em forma de pedra


FONTE:
Alteration of blood-brain barrier function
by methamphetamine and cocaine
http://www.dea.gov/pr/multimedia-library/publications/drug_of_abuse.pdf#page=45
http://www.buzzfeed.com/ashleyperez/what-exactly-is-the-difference-between-crack-and-cocaine

8 comentários:

  1. A ação da cocaína nas fibras dopaminérgicas da substância negra pode, de acordo com estudos da St. Jude Children's Research Hospital Investigators, tornar os usuários crônicos mais suscetíveis a desenvolver a doença de Parkinson. Isso se deve à relação dessa doença a essa região do sistema nervoso, que está ligada principalmente à coordenação do movimento (muito prejudicada na doença). Além disso, o estudo mostrou uma maior suscetibilidade também dos filhos de usuárias grávidas desenvolverem a doença no futuro.

    Fonte: http://www.stjude.org/stjude/v/index.jsp?vgnextoid=838965cad7e70110VgnVCM1000001e0215acRCRD&vgnextchannel=55f0c26f94fbe210VgnVCM1000001e0215acRCRD

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  2. O uso de cocaína tem sido associado a complicações cardiovasculares e neurológicas graves. Existem casos relatados de hemorragias intracerebrais e subaracnóideas em situações de abuso dessa substância, além de infartos provavelmente decorrentes da diminuição da perfusão sanguínea cerebral. Alguns estudos sugerem que o uso crônico de cocaína pode acarretar atrofia cerebral, evidenciada por técnicas tomográficas estruturais (tomografia computadorizada e ressonância magnética). Por essas técnicas, foi igualmente constatado que, mesmo em pacientes assintomáticos, o uso de cocaína pode estar relacionado à presença de infartos cerebrais. Entretanto, Algo tão importante quanto às ações desses agentes no organismo é o efeito social que esss drogas possuem. O uso está altamente associado com comportamentos violentos e criminais, como acidentes de trânsito e violência familiar, principalmente entre indivíduos com histórico de agressividade e com complicações médicas e psiquiátricas, elevando drasticamente os índices de morbidade e mortalidade.

    Fontes:
    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722010000300016&lang=pt
    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462001000100004&lang=pt

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  3. Infelizmente, no Brasil, a escalada do crack coincidiu com a política de fechamento de leitos psiquiátricos, e a rede pública não tem tido capacidade de absorver toda a demanda. De acordo com João Alberto Carvalho, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, o país conta com apenas 1.800 leitos psiquiátricos em hospital geral13. O grande desafio é o de instituir políticas preventivas para a população sob maior risco de contato com essa droga, que deveriam incluir programas sociais e alternativas ocupacionais recompensadoras. No que compete ao tratamento dos casos identificados, é mister que as orientações provenientes do Ministério da Saúde contemplem o modelo médico de assistência, devido à gravidade dos casos. É também necessário que os programas de atendimento e as políticas desenvolvidas sejam mais embasados nas evidências científicas já disponíveis sobre o tratamento das dependências químicas.

    Referências:
    http://www.scielo.br/pdf/rprs/v30n2/v30n2a03.pdf

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  4. As doenças cardiovasculares são realmente as maiores causas de mortalidade relacionadas à cocaína, uma das substâncias mais potentes para gerar prazer imediato, principalmente na forma de crack cuja ação é muito mais rápida e efetiva. É atrás desse prazer que o usuário está.O padrão de uso dessa droga é quase na forma de tudo ou nada: ou a pessoa fica dependente ou não se interessa por ela. Embora existam, é pequeno o número de usuários esporádicos, exatamente porque o efeito poderoso e reforçador do crack logo gera a dependência. Além disso, o prazer proporcionado pela droga mimetiza sensações prazerosas de outras atividades como comer e ter relações sexuais, que foram desenvolvidas para manter a espécie.
    Fonte: http://drauziovarella.com.br/dependencia-quimica/cocaina-e-crack/

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  5. A cocaína começou a ser consumida no Brasil na década de 1910, e era considerada remédio e vendida em farmácias, era indicada para “jovens pálidas e delicadas” e para “pessoas fracas”. A cocaína foi usada na fórmula da “Coca-Cola” até 1903, onde somente então foi substituída por cafeína. Isso evidencia que os efeitos nocivos da cocaína foram percebidos anos atrás e excluídos do consumo legal entre a populaçao.

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  6. No caso da discussão da questão da cocaína, o SNC promove algumas modificações para adaptar-se à nova situação. Três fenômenos podem ser observados: a tolerância, a sensibilização e o kindling. A tolerância representa a necessidade de doses da substância cada vez maiores para se obter os efeitos esperados. Ocorre tanto por alterações no metabolismo do fármaco (p.e. aumento da capacidade de metabolização enzimática), quanto por alteração no funcionamento das células-alvo (p.e. alterações na sensibilidade neuronal), gerando como resultado a depleção dos níveis de dopamina extracelular e o aumento do limiar de auto-estimulação observados no uso crônico da cocaína. A sensibilização é a exacerbação da atividade motora e dos comportamentos esteriotipados após a exposição a doses repetidas de cocaína. Já o kindling conceitua um fenômeno de sensibilização no qual estímulos elétricos subconvulsivos, repetidos e intermitentes, levavam ao desenvolvimento de convulsões generalizadas.
    Fonte: http://apps.einstein.br/alcooledrogas/novosite/atualizacoes/ac_126.htm

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  7. A mídia brasileira tem relatado casos de uso de crack também nas classes média e alta, mas ainda faltam evidências científicas de que esse índice seja alarmante. Hartman & Gollub, em 1999, analisaram reportagens publicadas em jornais americanos sobre a “epidemia do crack” e concluíram que estas eram sensacionalistas, pois não tinham embasamento científico e teriam ocasionado um desvio de foco das autoridades sobre outros problemas sociais mais relevantes.
    Demonstrou-se que, com a melhora da economia americana na década de 90 e a entrada de outras drogas, como opióides de alta potência e as chamadas designer drugs, houve uma diminuição de 60% no consumo de crack.

    http://www.scielo.br/pdf/rprs/v30n2/v30n2a03.pdf

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  8. Interessante saber que consumir cocaína juntamente com bebidas alcoólicas produz consequências mais graves do que o uso destas substâncias separadamente. Ingerir o álcool aumenta a “fissura” (vontade incontrolável de sentir o prazer que a droga provoca) pela cocaína, os riscos de episódios de perda de controle e intoxicação mais grave. Além disso, quando se consome a cocaína juntamente com bebidas alcoólicas, fenômeno frequentemente observado entre usuários de cocaína, o fígado combina as duas drogas e produz uma terceira substância, denominada cocaetileno, que intensifica os efeitos euforizantes da droga, mas é extremamente prejudicial ao organismo e aumenta os riscos de morte súbita. Importante saber também um pouco sobre a história da cocaína: Era conhecida como a “planta divina dos Incas”, as mais antigas folhas de coca foram descobertas na região do Peru em 2500 – 1800 a.C. Ao chegar a esta região, no século XVI, os espanhóis entraram em contato com os índios, que costumavam mascar folhas de coca no dia a dia. A partir do século XIX, na Europa, a droga teve seu uso difundido como um energético indicado para o tratamento de depressão, fadiga, neurastenia e dependência de derivados do ópio. A cocaína passou a ser vendida sob várias formas, nas farmácias, como medicação, além de ser encontrada em bares, na forma de vinho e refrigerante. Até 1903, a Coca-Cola era um xarope de coca. Nessa época, os fabricantes, preocupados com o risco de dependência, retiraram a cocaína da fórmula, substituindo-a por cafeína. Em 1914, a venda e o uso de cocaína foram proibidos. O consumo quase desapareceu, retornando a partir da década de 60.
    Fonte: http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/conteudo/index.php?id_conteudo=11330&rastro=INFORMA%C3%87%C3%95ES+SOBRE+DROGAS%2FTipos+de+drogas/Coca%C3%ADna

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