quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Postagem n°3: Mecanismos das Drogas:Álcool

O álcool, etanol, ou álcool etílico é a droga recreacional mais antiga do mundo e ainda tem uso extremamente popular. Em uma pesquisa feita em escolas públicas de Minas Gerais, 38,2% dos jovens entre 15 e 19 anos declararam consumir álcool com regularidade. Isso reflete a relevância social da droga, cujo o consumo é influenciado fortemente por caracteres culturais e tem um papel muito relacionado com as relações interpessoais.  O conhecimento de seus efeitos, portanto, é de fundamental importância para um profissional da saúde, haja visto o seu amplo consumo.
O consumo de bebidas alcoólicas mais rápido do que a capacidade de processamento do fígado gera um estado de intoxicação alcoólica (embriaguez). A intoxicação por álcool apresenta sintomas como face avermelhada, euforia e diminuição das inibições sociais em doses mais baixas. Em doses mais altas pode-se ter ataxia(diminuição da coordenação muscular), diminuição da habilidade em se tomar decisões, náusea, vômito (por seus efeitos disruptivos nos canais semicirculares do ouvido interno e irritação da mucosa gástrica). Os efeitos depressivos do álcool no sistema nervoso central podem, em doses muito altas, induzir a coma ou até mesmo morte.
As diferentes concentrações de álcool no sangue geram diferentes efeitos:
  • 20–79 mg/dL – Euforia e coordenação comprometida
  • 80–199 mg/dL –Ataxia, desregulação emocional e perda de juízo(estágio mais comumente alcançado por pessoas que bebem regularmente)
  • 200–299 mg/dL – Ataxia, fala embolada,desregulação emocional e perda de juíz,o náusea e vômito
  • 300–399 mg/dL – Anestesia , lapsos de memória e desregulação emocional
  • 400+ mg/dL – Falha respiratória e coma.
O álcool causa também importante efeitos bioquímicos, como hipoglicemia, devido à inibição que essa droga causa à gliconeogênese, efeito piorado quando o consumidor se apresenta em jejum prolongado.
O álcool aumenta as funções de neurotransmissores como o GABA e  a glicina, que são inibidores sinápticos, que diminuem o potencial da membrana ao permitirem a passagem de cloreto para o meio intracelular, o que diminui o potencial de membrana dos neurônios, causando efeitos inibitórios. O álcool também tem efeitos colinérgicos.
O consumo de álcool também gera diminuição da quantidade de tiamina(B1) no nosso corpo, pois inibe seu transporte ativo no trato gastrointestinal. Em pacientes crônicos com grande quantidade de fibroses e esteatose hepática , o estoque de tiamina do fígado também diminui, o que torna o consumo de álcool ainda mais perigoso.
Por esses motivos, o tratamento de pacientes com alta intoxicação alcoólica consiste basicamente em :
  • Administração de dextrose para  reverter a hipoglicemia
  • Administração de tiamina para evitar a síndrome de Wernicke–Korsakoff, que pode causar crises epilépticas.
  • Hemodiálise, em caso de concentrações de álcool maiores do que 400 mg/dL, que são concentrações extremamente perigosas.
  • Medicamentos para náusea e vômitos.
O fígado é o órgão responsável pelo metabolismo do álcool e seu uso crônico e em altas doses pode causar lesões irreversíveis sobre as células hepáticas, levando a doenças como cirrose, que apresenta sintomas como: icterícia, varizes esofágicas, gástricas e hemorroidais, edema, a alteração do metabolismo de estrogênios, a coagulopatia, encefalopatia hepática (síndrome que provoca alterações cerebrais provocadas pelo mau funcionamento do fígado) e deficiências nutricionais.  Esses efeitos negativos são mais nocivos em mulheres do que em homens.


FONTES:
http://drauziovarella.com.br/dependencia-quimica/o-figado-e-o-alcool/
http://www.scielosp.org/pdf/csp/v25n6/17.pdf
http://www.cdc.gov/alcohol/fact-sheets/binge-drinking.htm
http://www.unifra.br/eventos/sepe2012/Trabalhos/6914.pdf
hepatonautas.blogspot.com

domingo, 12 de outubro de 2014

Postagem nº 2- Dependência Física e Tolerância

Um dos efeitos mais delicados de muitas drogas, lícitas ou ilícitas, é o desenvolvimento de dependência física, sendo esse um dos motivos de proibição ou controle rígido de circulação de muitas delas. A dependência física resulta do uso crônico de uma droga, o que produz tolerância, que é o fenômeno que ocorre quando a reação à concentração de determinada droga é progressivamente reduzida, exigindo concentrações mais altas para atingir os efeitos desejados. Diferentes efeitos da mesma droga podem ter diferentes graus de desenvolvimento de tolerância. Quando o desenvolvimento de tolerância a uma droga é muito rápido, é chamado de taquifilaxia. Drogas como anfetaminas(um tipo de droga simpatomimética)
A tolerância a substâncias como a morfina, por exemplo, pode acontecer por diversos motivos, como fosforilação dos receptores de opioides, causando mudança conformacional, desacoplamento entre esses receptores e a proteína G, causando dessensibilização das células, ou diminuição dos números de receptores disponíveis.
O desenvolvimento de tolerância a certas substâncias nem sempre é algo negativo e, em alguns casos, pode ser usado como um recurso médico. Um exemplo é em relação à diminuição a respostas alérgicas a certos agentes. A administração do agente alergênico em doses inicialmente pequenas, mas progressivamente aumentadas, pode induzir o surgimento de tolerância e diminuir a resposta alérgica do paciente. Esse método é usado em pacientes diabéticos com alergia a insulina bovina.
A dependência física pode se manifestar de maneira fisiológica ou de maneira psicológica. A manifestação física pode ocorrer de forma a aumentar a taxa de batimentos cardíacos, sudorese , tremores e outros sintomas. Existem substâncias, como álcool, benzodiazepina(sedativo/ansiolítico) e barbitúricos(antiepilépticos) cuja a abstinência podem causar problemas ainda mais graves, que em alguns casos, em usuários crônicos, podem levar a convulsões e morte. A abstinência de pessoas dependentes de opioides pode, ainda,  levar ao surgimento de dores, diarreia e vômito, além dos efeitos supracitados.
O tratamento para dependentes físicos depende do tipo de droga em questão, mas geralmente consiste na redução progressiva das doses da droga e da administração de outras drogas para conter os efeitos gerados pela abstinência.
Percebe-se, assim, que drogas não são vilãs ou mocinhas, toda droga é potencialmente nociva e a maioria é potencialmente benéfica. O que muda de uma pra outra é o quão fácil é utilizar esses potenciais e o quão fácil é perder o controle deles. Esse é um dos critérios usados para a regulamentação das drogas e por não ser um critério exato ou preciso, ele gera muitas polêmicas e discussões em relação a drogas que estão mais próximas do limiar benéfico/maléfico.
FONTES:
http://www.brasilescola.com/drogas/anfetaminas.htm
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2672012/
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/1575069
http://en.wikipedia.org/wiki/Physical_dependence

domingo, 5 de outubro de 2014

Postagem nº1

O conceito de  droga não é algo muito bem delimitado e muda dependendo do enfoque do discurso. Drogas são consideradas como substâncias  que alteram processos bioquímicos ou fisiológicos no corpo de um organismo quando o enfoque é mais farmacológico. No sentido mais empregado, no entanto, o termo droga se refere a substâncias psicoativas, que provocam alteração da consciência do usuário da substância. O objetivo do blog é discorrer, durante o semestre, sobre o tema : "Drogas lícitas e ilícitas, a bioquímica explica"; o sentido para o termo droga utilizado aqui será o segundo, uma vez que a fronteira entre licitude e a ilicitude de uma droga é muito mais tênue quando se tratam de drogas psicoativas, uma vez que suas consequências na consciência humana não podem ser medidas de modo preciso. Serão adicionadas à definição de droga por esse blog, substâncias que causam dependência química/psicológica nos usuários.
As drogas com efeito psicoativo( drogas psicotrópicas) são as que agem no Sistema Nervoso Central e podem mudar o humor, comportamento e a percepção. Esse tipo de droga pode ser dividido nos seguintes tipos:
Depressoras, que diminuem a atividade do sistema nervoso central, deixando-o mais lento, geralmente agindo sobre neurotransmissores como o ácido gama-aminobutírico( GABA), principal neurotransmissor inibidor das sinapses, regulando a excitabilidade neuronal.

230  Acido gama-aminobutírico


Psicodistrópicas, que agem de modo a causar efeitos de despersonalização e perda de percepção( alucinógenos)

Psicolépticas, que  são estimulantes,  mantêm mais sentidos ativados e aumentam a percepção.

Muitas dessas drogas são ilícitas por induzirem os usuários a estados de consciência pelos quais não podem responder, podendo fazê-los agir de modo a infringir a lei ao terem seu senso de julgamento e noção das consequências de seus atos alteradas. Outro motivo para a proibição de algumas drogas é o surgimento de dependência.
A dependência no uso de drogas pode ser de dois tipos:
Dependência psíquica, em que a dependência da droga se dá pela busca de seus efeitos iniciais, que geralmente são de prazer, relaxamento ou alguma sensação boa. O que causa a dependência psíquica são razões de ordem cognitiva. A abstinência de drogas que causam dependência psíquica gera ansiedade e sentimento de vazio.
Dependência física, estado de dependência baseado na adaptação do corpo à presença da droga, de modo, que o funcionamento do corpo, regulado para a presença da droga, funciona mal quando em sua ausência, caracterizando uma síndrome de abstinência, fenômeno que será detalhado em postagens posteriores.
Ambos os tipos de dependência configura drogadição ou toxicodependência.
É importante notar, no entanto, que a proibição de uma droga não se baseia somente em suas características intrínsecas, mas também na sua forma de uso. Opiáceos, por exemplo, são substâncias altamente usadas no tratamento de dores, e possuem algumas variedades legalizadas. O seu uso indiscriminado, no entanto, pode causar efeitos devastadores, como ocorre com a heroína.
A proibição de certas drogas é um tema polêmico que levanta diversos pontos de vista, que envolvem aspectos culturais, econômicos, biológicos sociais  e políticos. Em uma discussão tão complexa, a bioquímica pode dar uma mãozinha para entender ao menos as bases biológicas e, por conseguinte, formar uma opinião sobre o assunto. Quanto ao resto... ah, aí já é outro blog.